Por mais capaz que seja o profissional designado para atender à mídia em uma coletiva de imprensa ou em entrevistas individuais é necessário um treinamento para agir com segurança e tranquilidade em meio ao caos de uma crise. Ser porta-voz em coletivas de imprensa é muito diferente de falar em público ou falar com pequenos grupos, pois os jornalistas vão questionar tudo sobre o tema em questão vão escrever de acordo com as informações passadas pelo porta-voz. Usarão pesquisas e fontes para confirmar ou desmentir o porta-voz.
A preparação é fundamental para que o porta-voz tenha em mente que ao representar uma instituição ele é a instituição e jamais falará sua opinião pessoal, por mais tentado que esteja de se manifestar em nome próprio. Não basta apenas conhecer o assunto, o histórico da empresa, os concorrentes etc., é preciso treinar exaustivamente as perguntas e respostas, junto com os assessores.
O porta-voz, além do domínio do ambiente empresarial, deverá ter postura, presença de espírito, olhar direto para as câmeras como se estivesse falando com uma pessoa que nada entende sobre o assunto, vestir-se adequadamente e mostrar um semblante confiável. Se o assunto for sério jamais fazer piadas. Poderá sorrir ao falar sobre uma conquista positiva da empresa.
Compete ao treinador elucidar o porta-voz sobre o modus operandi da imprensa, a forma de trabalho dos jornalistas e dos veículos de comunicação. O que deve fazer e o que não deve fazer. O porta-voz deverá entender o framing, enquadramento do tema da coletiva que definirá se a notícia a ser abordada poderá resultar numa determinada interpretação e se poderá exercer um poder crítico sobre as crises de imagem. Outro ponto é o priming, consequência gerada pela mídia ao dar mais tempo ou espaço nas páginas a um assunto fazendo com que ganhe relevância para o público. É importante também explicar o gatekeeping, um conceito jornalístico para edição, que define o que será noticiado de acordo com o valor-notícia, linha editorial e outros critérios.
Na hora da coletiva de imprensa, cabe ao porta-voz responder as perguntas convenientes ou vantajosas. As questões adversas devem ser respondidas usando subterfúgios, de respostas-ponte, para em seguida dar informações que interessam. Responder sempre com palavras e expressões positivas.
A função do porta-voz é ajudar os jornalistas a entenderem o que realmente está acontecendo, para isso torna-se importante ter mapas, números e comparações para oferecer como resposta.
O porta-voz jamais deve criticar concorrentes ou repassar culpa a terceiros. Ao fazer a introdução sobre um tema, não pode fazer um discurso, pois a coletiva de imprensa é interativa. Após a coletiva, deve sair de cena, evitando assim privilegiar algum jornalista que o aborde após a coletiva. Com educação, deve pedir ao jornalista para encaminhar a pergunta para a assessoria de imprensa.
Sobra a autora: Terezinha Santos e jornalista, consultora de comunicação, especialista em gestão de crise.